Sala de Troféus

Havia dormido até tarde naquele dia. O sol já estava no alto do céu, marcando aproximadamente meio dia. –Droga! – - exclamei. Meu estomago roncava de fome. Não comia desde ontem à tarde e parecia uma indigente de tão cansada e mal arrumada.

A noite anterior, e seu primeiro dia naquele colégio, fora péssimo. Almejava fazer algumas amizades decentes, ou então não agüentaria passar as férias naquele lugar sombrio. Segurou o choro de saudades da mamãe, e por um momento desejou ser como ela, simples trouxa passeando e assistindo filme em shoppings.
- Figo, a mamãe vai trazer comida... Tudo bem? – falei com meu gato rajado de laranja e marrom. Ele era a minha única companhia aparente naquele lugar, mas olhá-lo me trazia saudades de casa – Fica quietinho neném. – me despedi do gato e sai da comunal.

(...)

O Salão era enorme. Cinco mesas cercavam o local, e sentei-me na do meio. O ambiente tinha o símbolo de cada casa da escola, que davam um efeito bonito na decoração. Admirei o símbolo correspondente a Haus Luft e sorri. O local ainda estava vazio, e as pessoas chegavam aos poucos. Por um instante encarei a porta com medo de encontrar o garoto da noite anterior. Queria saber qual era sua casa.... e com aqueles pensamentos foi que me servi de um pedaço de frango.

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Finalmente uma belíssima noite de sono, talvez, Conrad havia abusado demais deixando para dormir tão tarde assim na noite anterior, que aliás, fora uma enorme confusão. Conheçeu duas meninas esquisitas no jardim, ficara preso na Crípta do subsolo com uma desconheçida e seu corvo, agora, parando para pensar, ele nem ao menos havia perguntado seu nome; bom, que diferença isso faria não é mesmo? Levantou-se e saiu do Dormitório despreocupado com a aparência, vestia uma calça de moletom preta e uma regata branca que lhe caiam perfeitas e confortáveis, mal reparou que estava descalço ou que o Gigante Táz, seu dogue alemão do pelo negro e quase dois metros de altura o seguira. Pobre cão, trancado naquele aposento por toda a noite junto ao seu distraído dono que lia pacificamente um livro qualquer durante toda madrugada.

(…)

Gigante Taz conduziu Conrad até o Grande Salão, provavelmente fora atraído pelo cheiro delicioso que vinha dalí, seu estômago roncou e os dois adentraram o Salão pouco habitado. O cão abocanhava pedaços de carne de fácil acesso para seu enorme focinho e Conrad acobertava o companheiro bisbilhotando afim de que ninguém pudesse os repreender. Conrad sentou-se em uma das mesas da ponta e se serviu de suco de morango.

Gigante Taz não estava mais ao seu lado. Conrad ergueu a cabeça, avitando-o no exato momento em que ele estava prestes a abocanhar o almoço de uma aluna na mesa central, levantou-se ligeiro a fim de evitar o estrago, que já estava feito, o alimento já estava sendo digerido pelo animal e ele sentiu medo da possível reação da garota. Colocou dois dedos na boca e assobiou alto para o cão, que eriçou as orelhas e foi ao seu encontro de imediato. Continou onde estava e cocou a cabeça olhando em direção a garota que havia perdido seu almoço, ou pelo menos, grande parte dele.

- Me desculpe? Ele não comeu o dia inteiro.

Comia como alguém que não colocava nada na boca a mais de uma semana. Ainda bem que ninguém me admirava, pois se assustaria com meu jeito afoito de ingerir os alimentos. Ergui-me um pouco do banco comprido para alcançar um punhado de torta de abobora quando notei um vulto preto logo abaixo de mim. – AAAAAAAAAH. – gritei. O cachorro enorme comia o pouco de comida que havia restado no prato. Ele parecia mais faminto que eu, graças. Não demorou muito para seu dono aparecer. Era um garoto bonito, alto e de cabelo castanho claro, possuía olhos penetrantes e sinceros ao pedir desculpas.

–Ah, tudo bem...– – disse forçando um sorriso. Ele tinha sorte que havia muita comida ainda no recinto, ou então teria que pagar para mim um novo prato, e cheio. – Mas, tome cuidado com ele, ou então estragará o banquete de mais pessoas. ...– completei. Minha voz era calma, e nada arrogante. Passei as mãos na cabeça do cachorro, acariciando-o de maneira amigável. – Seu faminto. ...– disse rindo. O cachorro não tinha culpa. – Pelo tamanho dele, ele deve comer mais de três vezes por dia, não? ...– disse – Lara! ...– estendendo as mãos como forma de cumprimento.

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Por influência do dia agradável mesmo com o sol escaldante e o vento gelado, Conrad estava de bom humor dessa vez e não tinha a intenção de ser desagradável com as pessoas do Instituto, afinal, sabe-se lá por quantos anos teria que conviver com cada uma delas e seus estranhos comportamentos. Ele segurou o cão que agora estava sentado ao seu lado pelo pescoço como se o estivesse abraçando e aceitou o cumprimento de Lara, num aperto firme.

- Conrad Kaus - Ele sorriu. - E mais uma vez, me desculpe por isso, garanto que ele só é comilão, é muito inofensivo - O que de fato era verdade, desde filhote, Gigante Taz vem sendo treinado por Conrad e alguns rapazes da Marinha que tinham mais habilidade com isso. Sim, o cão parecia um sinistro, coberto completamente por um brilhante pelo negro, enorme e esbelto, mantinha uma exelente e equilibrada alimentação, este acesso de loucura á comida de gente foi por puro desleixo. - Na verdade ele come o dia inteiro, mas ele é saudável sabe? Frutas e legumes - Realmente, aquele era um dia bom para o rapaz que conseguiu até brincar com a garota. Sentou-se ao seu lado usando a mesa como apoio para as costas e notou que estava descalço, descontraído, riu e bateu os pés no chão gelado, logo após prendeu seu cão entre as pernas, só por precaução.

- Quer que eu lhe traga algo? Um suco, uma fruta? Ração do Gigante Taz pra descontar o que ele lhe fez, talvez - Gargalhou curto com a sua própria ultima fala.

–Prazer Conrad- disse sorrindo. – Tudo bem, você me pegou em um dia que dormi muito bem – brinquei rindo um pouco da situação. Acho que nada poderia ser pior que meu primeiro dia... O que era um cachorro inofensivo comendo sua comida quando se tinha pessoas vingativas no mundo?

- Dá pra perceber pelo pêlo brilhante que ele tem. Brilha mais que meu cabelo – digo pegando uma mecha de cabelo apenas para gesticular. Ambos riram da pequena comparação e então me lembrei de Figo, meu gato gordinho. – Eu também tenho um faminto la no dormitório, só que ele é um gato. – falei. Precisava levar algo pra Figo, mas não sabia o que. A dieta de meu gato, aparentemente, era mais saudável que a minha.

O garoto então se sentou ao meu lado e prendeu o cachorro no meio de suas pernas. Sorri ao ver o carinho que tinha com o animal. Adorava pessoas que possuíam um afeto com os seres inofensivos. Gargalhe junto com o garoto quando o mesmo disse sobre a ração do seu cachorro. Fiz bico simulando uma pequena chateação e comentei:

- - Gostei da oferta e da criatividade, porém acho que vou preferir esperar a sobremesa. Um dia você me recompensa de alguma forma, mas seja criativo e me dê comida de humano, ok? – disse sorrindo. Empurrei o prato lambido pelo cachorro negro mais para o fundo da mesa. Ainda cabia mais um bocado de comida, mas esperaria a sobremesa. – E desculpa a pergunta, mas... Por que está descalço? – encarei os pés de Conrad rindo da situação descontraída do garoto. Ele devia ter um bom motivo para estar com seus pés de fora.

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O rapaz acariciava o pelo bem cuidado de seu animal de estimação, descontraído. E concluiu que nem todos os alunos de Drumstrang eram desprezíveis, bastava saber discernir e selecionar um bom grupo com quem pudesse criar vínculos, fazendo assim com que sua vida escolar ali pudesse fluir de maneira menos exaustiva. Ele escondeu os pés debaixo do enorme banco onde estava sentado e abraçou seu cão apoiando sua cabeça na dele com os olhos atentos em Lara ao seu lado. Sorriu torto e levemente embaraçado. - Mania velha.

A casa de seus pais, em Kalunga, lhe veio a memória naquele instante, o gramado enorme que convidava-lhe a senti-lo, inclusive em noites de Lua cheia, banhado suave pelo azulado lunar e as estrelas mil que cintilavam cada vez mais e mais de acordo com o apagar do resto da cidade. Seus olhos adquiriram um brilho diferente e ele sorriu distante. Voltou a prestar atenção em Lara e depois, na mesa, ainda sem sobremesa.

- Acordei tão tarde hoje que não desci a tempo de tomar café - Um suco? Não, não seria capaz de satisfazer sua fome. Acariciou Gigante Taz e rodou por cima do banco, cruzando suas pernas em posição de lótus e servindo-se de uma pêra, puxando para si a bandeja de frutas que conseguiu alcançar. – Então você tem um gato faminto? Não pode me culpar pela situação que poderia ser reversa, imagina se seu gato aparece aqui agora furtando minhas frutas? - Fez uma expressão divertida de “hunf, tome mais cuidado moçinha!” e ofereceu frutas para a garota. - Sinto muito mas não posso lhe prometer que vou te recompensar, então espere a sobremesa e a coma antes do Gigante Taz - Dizia enquanto mordiscava sua pêra, atento a seu cão que agora havia deitado-se de barriga para cima, deliciando-se com o chão gelado.

O Gigante Taz estava agora se divertindo no chão, rolando de um lado para o outro com as patinhas erguidas ao teto. Ele era um estabanado fofo. Conrad que estava descalço por mania. Sorri imaginando a cor que a sola do pé do menino deveria estar.

O meu prato lambido já não estava mais sobre a mesa. Certamente deviam estar desmontando o banquete do almoço para montar a de sobremesa. Sabia que seria inevitável evitar as sobremesas que estavam por vir, pois deveriam ter a mesma qualidade do anterior, além de diversidades. Recusei a fruta apenas com um breve aceno da cabeça. – Ah! Garanto que o Figo seria mais cauteloso. – ri de sua encenação. E era verdade, gatos costumavam ser singelos e independentes. Ainda estava com medo de solta-lo pela escola, sendo que havia lugares que eu nem imaginava que existia ainda, então o coitado ficaria preso em sua casinha e só sairia na minha companhia. – Com certeza, estou de olhos bem abertos para esse Taz faminto. – disse.

Prendi uma mecha de cabelo atrás da orelha e me posicionei da mesma maneira que Conrad, apoiando as costas na mesa. – E o que faz aqui nas férias?- perguntei ao garoto. Talvez a mesma coisa que eu: conhecendo a escola antes de todos. Mas não podia garantir que estava gostando, afinal, além de me sentir presa naquele lugar, quase morri no primeiro dia... Esperava que o dia de hoje fosse diferente. O que era um cachorro comendo sua comida quando se estava no meio do pântano no dia anterior? É..eu estava gostando do dia de hoje.

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E lá vinham as sobremesas, o garoto olhou por cima do ombro para apreciá-las ainda de longe, escolhendo o que atacaria primeiro. A variedade era imensa; de tortas a variados doces, Mérlin! Quanto tempo fazia desde que seu corpo não recebia nenhum chocolate ou alcaçuz? Ele e sua irmã haviam saido tão depressa da Rússia que não houve tempo de uma passada em alguma lojinha ou bombonier para abastecer-se de guloseimas para estoque. Que bom que o tal Instituto lhes oferecia uma bela reserva, será que todos os dias ou apenas nas férias? Não interessa. O importante é que ali estavam os doces.

Apoiou os pés descalços na barriga de Gigante Taz e olhou torto, brincalhão, para Lara. - Digamos que, antes do ano letivo começar, preciso entender o que é ser um bruxo - Agora sua expressão era distante e gélida. Sentiu raiva dos pais novamente por terem escondido todo um mundo dele. Em sua opinião, era uma atitude grosseira, mas não queria mais pensar nisso, sacudiu a cabeça livrando-se dos pensamentos ruins e sorriu novamente. - E você? Conheçendo o Instituto Drumstrang?

Em poucos segundos o que era banquete de almoço se tornou o maior que já tinha visto de doce. Realmente era uma imensa diversidade e para todos os gostos. Teriam que recompensar por ter um pântano no terreno da escola. E aos sobreviventes um banquete...
- É, eu também to precisando... Não sei usar nem a varinha. – disse rindo. E era verdade. Raramente sabia algum feitiço além dos poucos que papai me ensinara, e os mais básicos, óbvio. – Eu sou mestiça. – completei. Talvez ele não se interessasse pela origem do meu sangue, mas senti-me na obrigação de explicar tão desacato ao mundo bruxo.

Desviei o olhar de Conrad para procurar algum doce que me agradava. Eram tantas opções que pensei até em comer um pouco de cada, mas era muita gulodice. – Bom, eu to por que mamãe quis. Ela acha importante essa adaptação do primeiro dia. –– disse enquanto escolhia um pedaço de torta holandesa e um punhado de doce de abobora. Bela combinação (?) – Digamos que o meu primeiro dia, não fora muito bom. – – completei. Havia acabado de conhecer Conrad, mas ele não parecia do tipo chato e ignorante como Johann. Talvez pudesse ser meu primeiro amigo naquele lugar.

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Gigante Taz abocanhou uma maçã, basicamente um cão cavalo. Conrad deixou suas frutas de lado e se serviu de um generoso pedaço de torta de chocolate com morangos, sujando a ponta de seus dedos enquanto furtava morangos extras da torta. Lara também parecia maravilhada com a quantitade tremenda de doces a sua frente. - Eu sou puro… bom, eu acho - Pensou por alguns segundos e confirmou. - É, sou sim, meus pais são e pelo visto minha família inteira também - Começou a mastigar um enorme pedaço de torta enquanto limpava a ponta dos dedos e dava uma olhada em seu cão para certificar que ele não tenha degustado da sobremesa de ninguém dessa vez. -Há quarto dias eu sequer sabia que era bruxo - Confessou. - Mas quanto aos feitiços, ao menos os básicos, não são complicados.

Não sabia como isso funcionava em outras famílias, se desde pequenos eles já tinham contato com a magia ou alguns pais, assim como os dele, escondiam ao máximo esse mundo mágico até eles atingirem a adolescência. Uma pontada de curiosidade despertou nele, interessou-lhe querer saber a história da menina até ali. Até o dia que fora mandada para Drumstrang e como se sentiu com tudo isso. Era reconfortante ter alguém com quem conversar para comparar todas essas coisas e até mesmo poder entender melhor em que tipo de confusão estava se metendo, deixando de lado, no mundo trouxa, um sonho que ele tinha em querer ser piloto, e aventurando-se pelo desconhecido, aprendendo a lidar com o fato de que ele era um bruxo, havia nascido um, em uma família onde todos também tem esse sangue bruxo.

Conrad se sentia a vontade com Lara. Não precisava manter uma postura diferente ou ser distante, ela parecia ser do tipo sincera. E pelo visto, o primeiro dia dos dois não havia sido nada legal. Conrad ri, agora olhando para ela. - Aposto que não foi pior que o meu. Agora tirava as folinhas de cima dos morangos com um garfo e cobria-os com chocolate da torta antes de comê-los.

As pessoas que passavam perto de nós olhavam torto para o “pequeno” cachorro de Conrad. Eu encarava o garoto com uma feição cômica. Não podia deixar de rir ao lembrar o acontecimento. Imaginei algumas pessoas correndo do Gigante Taz e seu jeito desastrado. Até encontrando Johann e lhe fornecendo um tropeço descontando os acontecimentos da noite anterior.

Voltei do transe temporário quando voltei a ouvir a voz de Conrad. O garoto parecia muito mais confiante que eu quanto ao mundo recém descoberto. Ele acabara de descobrir tal Dom, porém ele parecia mais adepto ao fato, ou apenas sabia que havia nascido para aquilo, por ser puro. Eu não. Sabia da existência dos dois, mas sempre me dediquei mais aos afazeres do mundo trouxa. Escola, esportes, aulas de música, meus trabalhos como modelo...Eu não costumava me enturmar muito em reuniões que papai me levava com a corte bruxa, mas no fundo ele acreditava que eu tinha futuro. Talvez só eu não acreditasse nisso.

–Ah, então seus costumes devem ser bem diferentes do meu, não? Digo..Menos confusos...– – Conrad devia sempre estar centrado em apenas uma coisa, eu não...Deveria me adaptar nos dois mundos, e agora talvez só piorasse a situação. - E o que aconteceu no seu primeiro dia? Conte-me – disse cruzando as pernas e fazendo pose com o queixo apoiado nas mãos.

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Chega. Ainda havia espaço para mais doces, mas manter regimes para evitar taxas elevadas de glicose no organismo era uma boa, nada de doenças, embora ainda não soubesse se bruxos eram capazes de se curar mais depressa que trouxas – assim eram chamadas as pessoas que não haviam nascido bruxas – mas também não quis se sentir pesado e ter que se deitar para esperar o organismo resolver o problema da digestão sozinho. Limpou a boa com um guardanapo, sempre de olho no Gigante Taz e depois voltou sua atenção para Lara novamete.

- Não acredito. Sempre vivi como uma pessoa normal, a não ser pelo fato de um ou outro acontecimento esquisito em casa que meus pais sempre davam um jeito de explicar, nunca convivi com a magia.

Conrad levantou-se e fez sinal para Lara dizendo que já voltava, afastou-se um pouco da mesa e voltou com uma jarra de suco de abóbora e dois copos limpos. Ofereceu um deles a garota e encheu o seu com o liquido grosso com a cor da fruta. Tomou uma golada grande.

- Bom, primeiro fui procurar por minha irmã por todo o Castelo, então fui parar nos jardins e conheci duas meninas estranhas; uma não parava de falar e a outra parecia ler mentes - Ele dizia olhando com olhos arregalados como quem estivesse contando coisas malignas de outro mundo, num tom muito divertido. – Quando sai de lá fui sem querer parar numa Cripta, fiquei preso com uma garota que tinha um corvo que queria me seduzir, não o corvo, a menina - Ele mesmo riu, mas fez questão de explicar as coisas. Deu outra super golada, terminando o conteúdo do copo.

- Ainda não encontrei minha irmã.

Abocanhei o último pedaço de torta posta no meu prato e o depositei em cima da mesa. Agora eu estava satisfeita, mas meu estômago ainda roncava de farto. Conrad se afastou breves minutos e eu o acompanhei com o olhar. O garoto deixou a meu domínio o seu cachorro grande, que agora estava pesado e molenga, mas logo voltou com uma jarra de suco de abobora. – Obrigada. – agradeci quando o menino preencheu o meu.

Fiquei com vontade de perguntar o porquê de sua família, que deveria ser tradicional, não o incluía prontamente no mundo mágico. Devia se uma situação complicada, talvez pior do que a minha, um choque emocional.

–Acho que seu caso é pior que o meu..– – fiz um bico e tomei um gole de suco de abobora. Não sei o quanto agüentaria tomar daquilo, pois era um pouco pesado, e de pesada já bastava eu.

O Garoto então começou a me contar seu primeiro dia. Não pude deixar de rir pelas caretas que acompanhava cada frase que o garoto frisava, mas ainda achava que meu dia tinha sido pior. – Te seduzir? ri mais alto da ambigüidade do corvo. – Você preferia que fosse o corvo? Brincadeira. disse com as mãos nos ombros do garoto. – Pelo jeito as pessoas daqui são complicadas. E quem é tua irmã?– Perguntei curiosa. Eu não podia falar absolutamente nada, e pelo jeito o meu dia havia ganhado. E Johann? Valia por todas aquelas meninas, o problema era que não parava de pensar no infeliz. – Eu quase morri no meu.

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Era possível sim que a situação do rapaz fosse mais delicada que a da moça, havia o fato de que a magia lhe fora oculta por anos e aquilo foi egoísmo dos pais, não compartilhar, havia o fato de que os pais poderiam ter lançado feitiços para que os próprios herdeiros não soubessem de seus verdadeiros dons e habilidades para a magia. Ele não quis pensar em nada disso agora, não queria que seu lado sério viesse a tona, não ali, enquanto se divertia com uma nova amiga.

- Sempre tive uma queda por Corvo, devo admitir - Ele riu. - E como foi seu horrível primeiro dia pior que o meu que quase lhe matou?

Ele já havia terminado ali. Apenas continuou sentado para que Lara lhe contasse sua história, também porque não tinha mais lugar nenhum para ir. Pensava em levar Gigante Taz para alguma área com gramado. Mas continuava atento as palavras da menina.

- Minha irmã é uma fedelha por aí - E riu. Disse brincando, adorava a irmã e era do tipo super-protetor. - Briana Kaus, somos gêmeos.

Ele sorriu denovo. Ninguém, nunca diria que eram gêmeos, mas a ligação que tinham por este fato, era desmedida, almas gêmeas era uma bela descrição para eles dois. A protegia como se fosse seu pai, mas brigavam as vezes, como cão e gato. Tudo sempre assim muito intenso.

Conrad me deixava à vontade. Talvez pudéssemos ser amigos, daqueles que andavam juntos, almoçavam juntos, riam e fofocavam juntos. Às vezes eu exagerava nas emoções, mas estava passando um tempo agradável com o garoto. Ele era o que sabia mais sobre mim, até então.

O garoto era divertido, e eu sentia certa liberdade para brincar com ele, o mesmo parecia se enturmar junto a minhas piadinhas, o que me deixava mais tranqüila. – Bom, eu fui dar um passeio bem estranho pela noite, e encontrei o pântano e me perdi. – disse encarando o chão. Era realmente uma boba, ver e entrar no pântano por livre e espontânea vontade. – Acho que eu tava meio sonâmbula. Quer dizer, a princípio não sabia onde estava até um garoto me encontrar. – franzi os lábios ao lembrar o momento constrangedor. Aquilo deveria ser uma das coisas que não contaria a ninguém, mas por um momento precisava contar e tirar o peso da cabeça. – E depois quase morremos por que o Joh...O garoto torceu o pé, e tive que encontrar a saída sozinha e chamar ajuda do guarda caças. .– disse sem respirar. Tomei coragem para encarar Conrad e ver a feição de desaprovação do menino. No fundo eu sabia que ele queria rir da minha estúpida aventura, quem não iria rir?
– Ai eu guiei a vassoura até uma torre e esperamos amanhecer pra sair. – óbvio que não contaria a parte em que eu havia me encantado momentaneamente por aquele moleque folgado, e que também conseguiu o que queria e saiu. O calor proveniente do ódio subiu ao cérebro e resolvi parar de falar. – Deve ser legal ter irmã gêmea. Vocês se dão bem? .– perguntei.

Por um momento fiquei pensando na minha aventura e como pude ser tão desatenta a ponto de me enfiar no pântano. Realmente, eu era pirada. - Acho que sou pirada mesmo– –confirmei com a cabeça.

O Garoto resumiu seu afeto com sua irmã. – Que lindo. –– disse rindo. Achava linda a demonstração de afeto entre irmãos, que mesmo depois de brigas e tapas na cara, tornavam-se os melhores amigos. – Irmãos são assim mesmo, mas no fundo é pra sempre esse amor. –– Deixei que Conrad pegasse minha mão e analisasse minhas unhas. Achei estranho esse ato do garoto, mas entendi depois que completou a frase. – Sério? - – não pude deixar de rir com o comentário do menino. - É, acho que vou seguir o exemplo dela...- – brinquei.

Observei Gigante Taz ficar agitado novamente. Conrad logo justificou o problema e com certeza o pequeno cachorro estava querendo dar uma volta. – É, acho que ele quer mesmo passear. –– disse me levantando junto ao garoto. Colhi um guarda napo e embulhei algumas frutas nele. Deveria alimentar Figo com alguma coisa até chegar sua ração. – Eu vou alimentar meu bebê na comunal....Posso te encontrar depois? –– disse sorrindo. Conrad concordou com a cabeça e disse que provavelmente estaria no jardim. Sorri e então me despedi do garoto. Ambos saíram dali.

Caminhava pelos corredores do castelo, olhava canto a canto imaginando o quanto aquilo ali ficaria cheio após alguns dias, encontrei alguns conhecidos ao qual cumprimentei e outras que nem mesmo conhecia, mas por educação, acenei, já estava tarde e meu estômago avisa-me sobre isso .

- Hm... que fome! - sussurro para mim mesma.

Vejo que o grande salão não estava muito longe dali, apresso meus passos para chegar ao lugar, aproximo-me do mesmo e solto um largo suspiro e entro, olho toda a mesa da Wasser e veja apenas alguns alunos por ali, então aproximo-me de alguns, só que um pouco distante, sento-me e fico a fitar todos de forma curiosa.

Sinto meu rosto enrubrecer, não era acostumada ser cumprimentada pelas pessoas, afinal, quase 1 mês e menos de 5 conhecidos, fito então o rapaz nos olhos e sorrio pegando uma uva que estava a disposição.

- Sim sim, meu primeiro ano, e é o seu?

Vi que não tinha me apresentado, estendo minha mão.

- Perdoe-me, meu nome é Lillyan.

O garoto parecia muito simpático, então abro um largo sorriso para ele.

Olho-o nos olhos e sorrio de forma simpática e então respondo sua pergunta.

- Claro que pode!

Como mais umas 3 uvas e o olha novamente.

- Com certeza este castelo é fabuloso, estou curiosa para saber e entender todos os mistérios que se esconde atrás de cada parede..

Faço uma pausa para comer outra uva e torno a olha-lo nos olhos.

- Saber de suas histórias...

Sorrio com meus devaneios.

- É muito animado.

Dou uma piscadela.

- O que descobriu nesse tempo aqui?