I’m a rough and tough

And nothing’s gonna knock this girl down

O sol ostentava magestoso no céu, rodeado de nuvens.Distante deles,as folhas pigmentadas tingiam o Instituto,transformando o local em uma pintura cheia de cores que remetiam à natureza. O local onde Anita se encontrava estava silencioso e, sem dúvida, mais fresco do que o clima que se estendia por detrás das grossas portas. A ausência de som foi quebrada por um suspiro pesado,vindo da garota que estava ali. Ela logo cansou-se de ficar parada,sentindo seu corpo receber a brisa morna involutariamente de cinco em cinco minutos. Levantou-se rapidamente,colocava um casaco por cima das roupas, e rumou para as folhas de outono que caiam preguiçosamente na grama. Já que estava decidida a se aproveitar, uma ida até os Jardians não traria grandes problemas à garota, ou assim ou assim ela pensava.
(...)

Árvores e diversas flores estendiam-se pelo caminho vazio,longo e reto,contribuindo para que a noção de tempo fosse perdida a cada passo que era feito. O silêncio reinava,sendo quebrado pelas passadas rápidas de garota e nos diversos momentos em que ela golpeava o ar com os punhos que o objeto se transformava,como se ele fosse um inimigo imaginário. Além de expulsar o tédio,aquela atitude tornava-se o sinal claro de que ela não deveria enlouquecer ou ficar em angonia depois de seus olhos acostumarem-se com plantas e mais plantas. Depois de algum tempo, o ato de caminhar converteu-se em passadas automatizadas. Anita não sentia mais dor ou cansaço disponibilizado no processo. Ela bufou, chutando algumas pedras, até que notou a paisagem mudando. A loira olhou para os lados, visivelmente intrigada ao ver o Jardim surgir calma diante de seus olhos.
Os vários bancos faziam pareciam tão convidativos, que a garota não suportou e praticamente deitou-se em um deles, sentindo a superfície fria amenizar o calor que sentia por conta da caminhada.

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A língua estalou em um movimento corriqueiro e inconsciente. Havia ganho essa mania após o longo convívio com sua irmã e sua ansiedade claustrofóbica. Talvez por isso, quando começava a agir como se tivesse tomado cinco cappuccinos duplos, vestia uma roupa leve e deitava-se no banco, ignorando o resto do mundo. Estar perto do silêncio tinha esse efeito calmante: os problemas sumiam, o sol parecia menos infernal e a brisa lembrava dedos brincalhões acariciando a sua pele. Ah, doces pensamentos que povoam contos de fadas de uma bruxa problemática.

O local estava em uma temperatura agradável,como ela previra. E vazio também, com exceção de alguns estudantes. Em um ato perfeitamente comum, a morena abriu os olhos, reconhecendo um ou outro rosto. As vezes, seus olhos vagavam para longe dos bruxos, fixando-se em algo que lhe chamava a atenção até que tudo parou. Flores rosadas jaziam próxima a seu corpo, como se estivessem ali desde sempre. A morena arqueou uma sobrancelha, intrigada pelo fato de olhar o pequeno buquê ao seu lado. Não lembrava de ter o visto assim que deitara-se..quem o havia posto ali? Assim que seus olhos novamente vagaram à procura de respostas, notou uma cabeleira loira afastando-se de si,assim como olhos claros familiares. Um lampejo passou pela mente de Anita quando seus olhos cruzaram-se com os da garota. Era Lucy Deshouliere,uma garota que havia conhecido no pátio.

Reprimindo um nó na garganta, a moça levantou-se do banco e pegou as flores, rumando até onde a conhecida estava. Deu um meio sorriso à Lucy enquanto sentava ao seu lado, sem pedir uma autorização para tal. Impulsiva..mais uma atitude impulsiva.

-Lucy, não é?-sussurou, fixando seus olhos na face da garota. No minuto seguinte, erguera as flores rosadas na direção da mesma, intrigada. -Porque colocou estas flores no meu banco?

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Ela não compreendia. Não compreendia o modo como Lucy portava-se diante de sua presença. Era estranho perceber que a loira importava-se consigo, considerando o fato de que mal a conhecia. Anita meneou o rosto, mal acreditando no que a garota falara sobre o seu comportamento.
Aquele turbilhão de pensamentos assolava sua mente enquanto pensava no que a bruxa acabara de dizer, fazendo com que os olhos tempestuosos de Anita se voltassem para o seu rosto. Novamente engoliu em seco,disposta a esquecer aqueles pensamentos.

Neste instante ela não sabia muito bem o que pensar, na verdade. Estava feliz e ao mesmo tempo um peso lhe afundava em um mar de confusões, ela não conseguia alcançar a superfície, por mais que lutasse. Ou talvez ela estivesse apenas desistindo de lutar e isso foi evidenciado pelo suspiro cansado que escapou de seus lábios.
Ela precisava esclarecer aquilo. Precisava resolver aquela situação, entender o ponto da loira, mas parecia impossível. Deixou o vento bagunçar os seus cabelos e levou a mão a cabeça, respirando profundamente e fechando os olhos tristes e confusos. Porque aquela amabilidade era tão importante? Era mesmo estranho. Algumas vezes, em sua curta vida, ela desejou ser normal. Desejou não escutar tudo, desejou ser menos desastrada e desejou ser tão forte quanto seus irmãos. Algumas vezes, desejou não ser a mais sensível. A sensibilidade machuca. Mas, agora, ela sabia que eram tolices, esses desejos.
Abriu os olhos novamente no que, para ela, pareceram segundos. Os fios negros foram bagunçados pelo vento, mas ela não se importou. Não estava atrapalhando no principal, a ver. A ouvir. A sentir de sua própria forma.

Era a mais sensível, no fim das contas.

Anita deixou que a brisa levasse as mechas do cabelo preto pela face e que a mente vagasse pelas memórias até que ouviu algo próximo a si. Ela fixou seu olhar no intruso,ouvindo a voz rouca pronunciar-se em resposta à sua presença enquanto Lucy respondia à pergunta que o mesmo fazia. Em resposta, a oclumente apenas balançou o rosto negativamente,parando apenas para revirar os olhos ao notar as palavras da loira. Como ela poderia ser tão..amigável?

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Era uma sensação deveras agradável. Seu corpo estava dormente, leve e descansado, como se flutuasse em meio às nuvens no céu ou repousasse em uma cama feita apenas de algodão doce. Por mais que sua mente persistisse em lembrá-la dos últimos tão horríveis acontecimentos, não sentia absolutamente nada. Nenhuma irritação, nenhuma dor; caso fosse mais otimista poderia jurar que de fato não havia um ferimento sequer em seu coração.
Parecia que estava há anos trancada em uma caverna escura e úmida, com a ausência completa de luz, e finalmente tivesse encontrado a saída através de um feixe luminoso, pois seus olhos arderam e tentaram com esforço voltar a se fechar. Mas não o fez. Ardência nenhuma a impediria de admirar aquele espetáculo de emoções que estava vivenciando.

Anita ouvia o início da conversa de ambos calmamente, perdendo-se ao observar o movimentos dos mesmos, como um velho passatempo. E assim que Lucy terminou de se pronunciar,a morena piscou seus olhos. Uma, duas, três vezes, notando um leve rubror nas faces da loira. Um meio sorriso escapou dos lábios da oclumente assim que seu olhar novamente se cruzou com o da garota, adorando ver a confusão que causava no comportamento de Lucy. E agora Anita, diante daquele descobrimento, pôde perceber coisas que antes nem sequer passavam pela sua cabeça.


-Anita Albach Weiss.-sussurou, olhando para o garoto. Meneou o rosto, lembrando uma expressão feita constantemente pelos felinos enquantos seus olhos estonteantes vagavam do rapaz para a loira, distraidos. -Qual é o nome da sua irmã?-perguntou, sentindo uma ponta de interesse crescer em seu peito.

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Precisava ficar ali e isso já se tornava irritante.Irritante ter que sorrir quando não quer, abraçar quem não gosta e ser sempre alguém que deixara de ser a muito tempo atrás.

Já não era mais aquela garotinha amável e gentil que fora a algum tempo atrás, apesar de mórbida. A vida, a sociedade, lhe mostrou que você ser gentil com os outros não vai fazer com que desconsiderem seus defeitos. Ela então passou a pensar apenas em si mesma e em sua irmã. Apenas no objetivo de recuperar aquilo que foi tomado para que sua irmã pudesse sorrir novamente. Sabia que ela sentia falta da visão... Quem não sentiria? Bom, mas já ela havia se acostumado com a isso. Na verdade, havia até se apegado a não mostrar suas verdadeiras intenções por detrás de gestos e atitudes.
Além de mais resistente, Anita possuia a Oclumencia, que a fazia se sentir mais forte. Forte o suficiente para seguir em frente com. Observou, distraída, Lucy ficar incomodada ao saber nome do rapaz; provavelmente, a menção aquelas seis palavras não possuiam um significado muito bom para a loira. Levantou o olhar bem a tempo de ouvir as palavras do rapaz e o olhar de Lucy sobre si. Aquele olhar..eram tantas as sensações de Lucy por detrás daquele olhar.
Anita meneou o rosto após suspirar, sentindo aquela onda característica de ócio tomar conta de seu corpo. Em um ato meramente impulsivo, tirou a varinha das vestes e apontou-a para o ar,distraidamente.

-Flagrate.-sussurou,sorrindo ao notar uma chama escarlate cintilar na ponta da varinha, indicando que o feitiço fora perfeitamente executado. Ela começou a desenhar figuras aleatórias enquanto seus ouvidos estavam parcialmente atentos ao diálogo de Lucy e Conrad.

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O frio começava a ceder, não que Anita se importasse muito. Como qualquer outra garota, suas faces estavam rosadas e ardidas por causa dele, e se encontrava agasalhada,mas, caso lhe incomodasse ter todo aquele pano sobre os ombros, lançaria tudo longe, tanto que seus pés, como habitual, estavam descalços.

Não se tratava de algum poder sobrenatural, ainda que alguns desconfiassem que ela pudesse ter alguma resistência mágica contra as agressões do tempo. Em verdade, discernir frio e quente era apenas como discernir vermelho e verde – os homens nasciam com aquela habilidade intrínseca, mas apenas efetivamente aprendiam o que elas eram quando tinham contato com estas na sua cultura. Vantagem ou não,Anita nunca aprendera o que era sensibilidade térmica, como, há poucos anos, não conseguia entender as diferenças básicas entre um cavalo e um cachorro, ou verde e vermelho; nunca fora humana o suficiente e, justamente por isso, ninguém havia tomado seu tempo para ensinar aquelas coisas pequenas, de modo que ela soube falar antes mesmo que discernir muitas coisas. Portanto, sim, ela se machucava com muito tempo no frio, seus pés ardiam, como seu rosto, e ela não era imune ao congelamento, mas ela realmente não sentia todo o frio que faz as pessoas praguejarem contra o vento – ela simplesmente não parecia se importar, parecendo misteriosamente aquecida por seus cabelos cor de fogo.

-Vocês..possuem alguma habilidade especial? Além de saber executar feitiços com a varinha,é claro.-murmurrou, finalizando o feitiço e guardando a varinha nas vestes. Piscou seus olhos novamente,fixando seus olhos em ambos.

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